O que decidimos fazer numa situação-limite

Sonho CCXXIX


Começara a guerra.
 
Em Aranjuez preparava-se um êxodo.
 
O que Françoise mais gostara em Aranjuez não fora o Palácio Real, nem a Casa del Labrador, mas os plátanos do jardim do palácio.
 
Eram plátanos muito antigos a quem ninguém cortara os ramos como se faz habitualmente nas cidades; e os ramos rasavam o chão, numa expressão de volúpia.
 
A Françoise não sabia se havia de fugir de metro ou de carro.
 
Para onde?
 
Em direcção ao centro da Europa ou em direcção a Portugal?
 
Será que o velho Opel aguentaria a viagem?
 
Era preciso reunir mantas, mantimentos e garrafões de gasolina.
 
A sua avó que tinha morrido há tantos anos estava ali e a Françoise correu a abraçá-la.
 
- Queres ir comigo no meu carro?
 
Portugal, pela sua insignificância, era um destino mais seguro.
 
A Françoise aproximou-se do carro de Heinrich Hart e disse:
 
- Não parta sem mim.
 
- Não sou seu amigo nem seu pai, porque haveria de partir sem si?
 
A Françoise sorriu com um sorriso de circunstância, guardando os sentimentos no fundo de si como num cofre.
 
- Tem toda a razão. Porque haveria de partir sem mim? Se vir algum perigo, por amor de Deus, parta imediatamente. Mas se puder esperar, espere por mim que eu vou atrás do seu carro.
 
Fora apenas por causa de Heinrich Hart que a Françoise decidira arriscar a viagem de carro.
 
Mas isso ela nunca diria.